O uso de Metotrexato na Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa

Seu guia completo sobre este importante medicamento

Vamos aprender e esclarecer dúvidas sobre o que é o Metotrexato, quais suas indicações, reações adversas, como é realizada sua administração. No final, abordaremos as dúvidas mais frequentes associadas ao tema.

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O que é Metotrexato?

O Metotrexato é um medicamento imunossupressor amplamente utilizado no tratamento de doenças autoimunes e inflamatórias, incluindo artrite reumatoide e psoríase. No contexto das Doenças Inflamatórias Intestinais, como a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa, o uso do Metotrexato tem seu papel mais estabelecido na Doença de Crohn do que na Retocolite Ulcerativa.

A história do Metotrexato começa com a pesquisa sobre o metabolismo do ácido fólico, identificado como essencial para o crescimento celular. Os cientistas da época começaram a desenvolver pesquisas para buscar um antagonista do ácido fólico para tratamento de câncer, surgindo o Metotrexato. Nos anos de 1950, começou a ser usado para tratar linfomas e um tipo específico de leucemia.

Na década de 1960, começou a ser usado em doenças autoimunes devido a sua capacidade de suprimir o sistema imunológico. Primeiramente foi usado na artrite reumatoide, mostrando-se eficaz para controlar sintomas em pacientes que não respondiam ao tratamento convencional. Ao longo dos anos, começou a ser usado para tratar outras condições autoimunes e inflamatórias, como psoríase, lúpus, vasculite e Doença de Crohn.

Hoje, o Metotrexato continua como opção no arsenal terapêutico da Doença de Crohn em pacientes que não podem tomar azatioprina ou 6-mercaptopurina, e também, na terapia combinada com imunobiológico para prevenir a formação de anticorpos contra o biológico.

Como funciona?

O Metotrexato é um imunossupressor que funciona principalmente interferindo na síntese do DNA e na divisão e multiplicação de nossas células. O Metotrexato bloqueia a enzima que produz folato, elemento necessário para a célula produzir o DNA. Sem o DNA, as células não podem se multiplicar. Ao reduzir o número e, assim, a atividade das células imunológicas, o Metotrexato diminui a resposta imune, ajudando a aliviar os sintomas de doenças autoimunes.

Benefícios do tratamento

  • Ajudar a controlar os sintomas em pacientes com Doença de Crohn.
  • Reduzir a inflamação intestinal em pacientes com Doença de Crohn.
  • Reduzir a necessidade de corticosteroides no tratamento da Doença de Crohn.
  • Pode ser usado como um substituto a azatioprina ou a 6-mercaptopurina em pacientes que não toleram essas medicações.
  • Pode ser usado para reduzir a formação de anticorpos contra o biológico em terapias combinadas, e, assim, aumentar a eficácia do tratamento.
  • Acessível, custo baixo.

Tratamentos com Metotrexato

Doenças tratadas

  • Doença de Crohn.
  • Artrite reumatoide.
  • Posoríase.
  • Artrite psoriásica.
  • Lúpus Eritematoso Sistêmico.
  • Vasculite.
  • Dermatomiosite e Polimiosite.
  • Sarcoidose.
  • Esclerose Sistêmica (Esclerodermia).
  • Granulomatose com Poliangeíte (Granulomatose de Wegener).
  • Algumas doenças oncológicas.

Possíveis doenças induzidas pelo uso do Metotrexato

  • Pneumonite induzida por Metotrexato.
  • Doença pulmonar intersticial.
  • Dermatose associada ao Metotrexato.
  • Linfomas associados ao Metotrexato.

Para quem é indicado?

  • Doença de Crohn leve a moderada que esteja recebendo corticoide sistêmico, para evitar uso de corticoide a longo prazo; moderada a grave sem fatores de pior prognóstico.
  • Pacientes com indicação a usar o imunossupressor, mas que são intolerantes a azatioprina e 6-mercaptopurina.
  • Uso combinado com o imunobiológico para reduzir a formação de anticorpos contra o biológico.

Cuidados antes de iniciar o tratamento

  • Avaliação médica completa (história dos sintomas, doenças preexistentes, cirurgias; e exame físico).
  • Exames de sangue, incluindo hemograma, Proteína C Reativa (PCR – prova inflamatória), avaliação da função renal, avaliação das vitaminas (ferro, B12, ácido fólico, vitamina D) e avaliação hepática.
  • Exames de fezes.
  • Testes para investigação de tuberculose devido ao risco de ativação dessa doença durante o tratamento: RX de tórax e Prova Tuberculínica (PPD) ou IGRA (Interferon-Gamma Release Assays).
  • Testes para infecções virais: HIV, hepatite B, hepatite C.
  • Teste de gravidez para mulheres em idade fértil, pois o Metotrexato é teratogênico e é contraindicado durante a gravidez.

Atualização do cartão de vacinas

  • Preferencialmente antes do início da imunossupressão.
  • Vacinas indicadas para o imunossuprimido: Influenza, Covid, Pneumocócica, Hepatites A e B, Meningo B (privado), Meningo C, HPV, Herpes Zoster inativada (Shingrix) (privado), dT/dTpa.
  • As vacinas de vírus atenuado estão contraindicadas durante a imunossupressão: Dengue, Febre Amarela, HerpesZoster atenuada (Zostavax), Varicela, Tríplice Vral (sarampo, rubéola e caxumba), BCG, poliomielite oral.

Administração do medicamento

Subcutânea

Forma mais comum de administração do Metotrexato na Doença de Crohn, com melhor absorção quando comparada a via oral.

  • Dose: 25mg na fase de indução / 15 a 25mg na fase de manutenção.
  • Tempo de aplicação: a injeção subcutânea é administrada rapidamente, em poucos minutos.
  • Periodicidade: aplicado 1x por semana tanto na fase de indução quanto na fase de manutenção.
  • Possíveis reações adversas da injeção: dor, sensibilidade, vermelhidão, inchaço e coceira no local da injeção; náuseas e vômitos; fadiga e mal-estar; são raros: dificuldade para respirar, edema facial e choque anafilático.

Opinião quanto a via de administração: a via subcutânea oferece melhor absorção da medicação, permite uso eficaz com doses menores; reduz a incidência de efeitos colaterais gastrointestinais, como náuseas, vômitos e estomatite, pois não passa pelo trato gastrointestinal; permite que o paciente realize autoadministração em casa, após treinamento adequado, proporcionando conveniência e autonomia. Por outro lado, reações no local da injeção, como dor, vermelhidão, inchaço e coceira, são relativamente comuns e podem causar desconforto ao paciente. A autoadministração é uma vantagem, mas requer que o paciente seja adequadamente treinado para realizar as injeções corretamente. Pacientes com doenças de pele podem encontrar dificuldade para utilizar a via de maneira adequada pelas condições da pele no lugar da aplicação.

Intramuscular

Usada em pacientes que não toleram a via subcutânea ou que preferem a via intramuscular.

  • Dose: 25mg na fase de indução / 15 a 25mg na fase de manutenção.
  • Tempo de aplicação: a injeção subcutânea é administrada rapidamente, em poucos minutos.
  • Periodicidade: aplicado 1x por semana tanto na fase de indução quanto na fase de manutenção.
  • Possíveis reações adversas da injeção: dor, sensibilidade, vermelhidão, inchaço e coceira no local da injeção; náuseas e vômitos; fadiga e mal-estar; são raros: dificuldade para respirar, edema facial e choque anafilático.

Opinião quanto a via de administração: a administração intramuscular oferece uma absorção semelhante a via subcutânea e melhor que a via oral. É uma boa opção em pacientes que têm problemas gastrointestinais que podem afetar a absorção da medicação quando administrado via oral, como em casos de doença inflamatória intestinal grave. Reduz a incidência de efeitos colaterais gastrointestinais, como náuseas, vômitos e estomatite, pois não passa pelo trato gastrointestinal. Como essa via é administrada por um profissional de saúde, pode melhorar a adesão daqueles que têm dificuldade de autoadministração e que são menos aderentes ao tratamento oral. Para pacientes com condições graves de pele, essa via pode ser uma alternativa quando a administração subcutânea não é recomendada. Por outro lado, pode gerar dor e desconforto no local da injeção, podem ser mais dolorosas do que as subcutâneas. A necessidade de administração por um profissional de saúde pode ser menos conveniente para o paciente, exigindo visitas ao ambiente de saúde de forma semanal.

Oral

Esse uso é menos comum na Doença de Crohn devido à variabilidade na absorção gastrointestinal. No entanto, pode ser usada quando outras vias não são viáveis ou quando seu uso é indicado para reduzir a formação de anticorpos na terapia combinada com o imunobiológico.

  • Dose: 15 a 25mg, 1x por semana. Após a remissão, a dose pode ser reajustada conforme a resposta do paciente e a tolerabilidade do medicamento quanto aos efeitos colaterais.
  • Periodicidade: realizado 1x por semana.
  • Possíveis reações adversas: a administração por via oral está associada a um risco maior de sintomas gastrointestinais, como náuseas, vômitos, dor abdominal e estomatite (inflamação da mucosa bucal). Podem ocorrer fadiga, mal-estar, dor de cabeça. Reações alérgicas são raras.

Opinião quanto a via de administração: a via oral é mais conveniente e menos invasiva para os pacientes, porém a absorção é menos previsível e por isso pode ser menos eficaz. São amplamente disponíveis e mais acessíveis em termo de custo, uma boa opção para pacientes que tem medo ou preferem evitar agulhas. Náuseas, vômitos e estomatite são comuns e podem ser mais pronunciados do que com a administração subcutânea e intramuscular. A administração por via oral permite maior flexibilidade para o paciente, mas ainda assim pode haver dificuldade na adesão (esquecimento de dose).

Eficácia e segurança

Resultados esperados

O Metotrexato pode induzir a remissão da Doença de Crohn e controlar os sintomas a longo prazo, com redução da inflamação intestinal, porém são menos eficazes que os tratamentos atuais e com grande risco de efeitos colaterais pelo seu uso. Hoje, é utilizado de forma mais restrita, com poucas indicações, principalmente quando outras terapias estão disponíveis. Uma dessas indicações mantidas atualmente é o uso em terapia combinada com imunobiológico para reduzir a formação de anticorpos contra o biológico.

Efeitos colaterais

  • Alopecia (perda de cabelo).
  • Náuseas e vômitos; estomatite – inflamação da mucosa bucal.
  • Fadiga e mal-estar.
  • Toxicidade hepática – pode causar elevação de enzimas hepáticas e danos para o fígado.
  • Supressão da medula óssea, resultando em anemia, redução dos leucócitos com aumento do risco de infecções e redução de plaquetas, com aumento do risco de sangramentos.
  • Pneumonite induzida pelo uso do Metotrexato – inflamação dos pulmões.
    Síndrome de Stevens-Johnson e Necrólise Epidérmica Tóxica – reações de pele graves e potencialmente fatais.
  • Toxicidade renal – comprometimento da função dos rins.

Onde aplicar?

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Aviso:

As informações fornecidas neste texto são apenas para fins informativos e educacionais e não substituem a consulta médica. Sempre procure orientação médica para diagnóstico e tratamento adequados.

Referências

  1. Brazilian Organization for Crohn’s Disease and Colitis. Second Brazilian Consensus on the Management of Crohn’s disease in adults: a consensus of the Brazilian Organization for Crohn’s Disease and Colitis (GEDIIB). Arq Gastroenterol. 2022.
  2. Brazilian Organization for Crohn’s Disease and Colitis. Second Brazilian consensus on the management of ulcerative colitis in adults: a consensus of the Brazilian Organization for Crohn’s Disease and
    Colitis (GEDIIB). Arq Gastroenterol. 2022.
  3. Egan LJ, Sandborn WJ. Methotrexate for inflammatory bowel disease: pharmacology and preliminary results. Mayo Clin Proc. 1996;71(1):69-80.
  4. Feagan BG, Fedorak RN, Irvine EJ, Wild G, Sutherland L, Steinhart AH, et al. A comparison of methotrexate with placebo for the maintenance of remission in Crohn’s disease. N Engl J Med. 2000;342(22):1627-32.
  5. Patel V, Wang Y, MacDonald JK, McDonald JW, Chande N. Methotrexate for maintenance of remission in Crohn’s disease. Cochrane Database Syst Rev. 2014;(8):CD006884.
O que é Metotrexato e como ele funciona?

O Metotrexato é um medicamento que interfere na produção de células que causam inflamação, ajudando a controlar os sintomas da Doença de Crohn.

Para quais Doenças Inflamatórias Intestinais o Metotrexato é indicado?

O Metotrexato pode ser utilizado no tratamento da Doença de Crohn. Seu uso na Retocolite Ulcerativa é menos comum e menos estabelecido.

Quais são os benefícios do uso do Metotrexato na Doença de Crohn?

O Metotrexato pode reduzir a inflamação intestinal, diminuir a frequência e a gravidade das crises, e induzir remissão da doença em alguns pacientes.

Quais são os efeitos colaterais do Metotrexato?

Os efeitos colaterais comuns incluem náuseas, vômitos, fadiga, estomatite (úlceras na boca), perda de apetite, queda de cabelo, aumento de enzimas hepáticas e mielossupressão (supressão da medula óssea com anemia, queda de leucócitos e queda de plaquetas). Pneumonite e toxicidade renal são efeitos colaterais raros e mais graves.

Como o Metotrexato é administrado?

O Metotrexato pode ser administrado por via oral ou por injeção. A dose e a frequência da administração são determinadas pelo médico.

FAQ

Dúvidas frequentes

FAQ

Dúvidas frequentes

Quanto tempo leva para o Metotrexato fazer efeito?

O efeito do Metotrexato pode levar algumas semanas ou meses para ser notado.

O Metotrexato cura a Doença de Crohn ou a Retocolite Ulcerativa?

O Metotrexato não cura essas doenças, mas pode ajudar a controlá-las e a melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Quem não pode usar o Metotrexato?

Pessoas com problemas hepáticos graves, doenças da medula óssea, infecções ativas e mulheres grávidas ou amamentando não devem usar o Metotrexato.

Quais cuidados devo ter durante o tratamento com Metotrexato?

É importante realizar exames de sangue regularmente para monitorar a função hepática e a contagem de células sanguíneas. Além disso, é fundamental informar o médico sobre qualquer efeito colateral.

O que acontece se eu parar de tomar Metotrexato?

A interrupção do tratamento com Metotrexato pode levar ao retorno dos sintomas da doença. É importante conversar com o médico antes de interromper o tratamento.

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